sábado, 27 de agosto de 2016

Epidemias da Idade Média: Lepra


Introdução
        O grande objetivo das discussões aqui trazidas é tentar de alguma maneira traduzir o significado das praticas médicas na idade média. Segundo o médico historiador Paulo Gabriel Hilu, a história das grandes epidemias durante o período medieval  é capaz de ser utilizada como objeto de estudo da própria sociedade. Segundo ele, “a doença é quase sempre um elemento de desorganização e reorganização social; a esse respeito ela torna mais visíveis as articulações essências do grupo, as linhas de força e as tensões que os transpassam.”   Nós aqui, pretendemos usar características sócio-espaciais dessa sociedade para elucidar a disseminação dessas doenças e assim os seus respectivos tratamentos.
O primeiro ponto é definir epidemias como um grupo grande doenças que possuem cada uma sua particularidade, mas que quando postas juntas na sociedade medieval trazem consequências similares como o aumento da mortalidade. No entanto, a peste negra e lepra são doenças muito diferentes. Trataremos especificamente da lepra. Enquanto a peste negra era uma doença  que matava muito rápido, a lepra trazia sintomas por um longo período de tempo, o que levava a maiores medidas preventivas. A principal era a exclusão dos leprosos, que eram expulsos das cidades em ascensão e levados a centros próprios onde viviam à margem da sociedade em péssimas condições. A lepra não surgiu na idade média, mas era rara em períodos anteriores à ela. Assim,  a grande disseminação da doença contribuiu para o seu entendimento posterior. 
Atualmente se sabe que a lepra é uma doença contagiosa crônica originada pelo  Mycobacterium leprae. Seus sintomas consistem em enormes variedades de lesões cutâneas e nos nervos periféricos;  o sintoma inicial consiste em uma mancha na pele sem sensibilidade tátil. A lepra chega a Europa a partir de tropas romanas vindas do Egito, antes de Cristo. No entanto, só passa a ser considerada endêmica na Alta Idade Média, segundo registros históricos e arqueológicos.  
Medicina medieval ligada ao tratamento da lepra
            A prática médica na idade média era muito restringida pela igreja que na alta idade média recuava o seu avanço ao proibir atividades como a dissecção de cadáveres. Grande parte do que já se conhecia sobre a medicina era advindo de tratados hipocráticos que se perderam na cultua cristã nesse período, ou por falta de tradução ou por domínio na igreja. Com a conquista de Sicilia e de partes da Espanha mulçumana, o ocidente pode entrar em contato co a medicina oriental, o que possibilitou o seu avanço. Posteriores traduções de obras completas de Hipócrates e Galeno fizeram que houvesse uma transformação intelectual da classe médica ainda na idade média, o que levou a criação de escolas médicas. A primeira delas foi a Escola Médica de Salerno, na Itália, principal responsável por introduzir a medicina árabe, baseada nas obras gregas e no empirismo, na ocidental. Atividades práticas eram desenvolvidas nessas escolas com o objetivo de entender (diagnosticar) e agir (tratar) sobre diversas doenças.
            Por mais que houvesse desenvolvimento médico empírico na época, a lepra, já mais compreendida, não possuía cura. Muitos acreditavam que a lepra era resultado de uma relação sexual em períodos de abstinência sexual impostos pela igreja, como no período menstrual da mulher, considerado impuro. Já havia registro desse tipo de diagnóstico na época, O Lírio da Medicina, escrito em 1305 descreve:
 “O homem leproso é (...) porque é engendrado durante as menstruações ou porque é filho de leproso, ou porque um leproso conheceu uma mulher grávida, e então a criança será leprosa, a lepra advém destas graves deficiências de geração.”
Vale lembrar que apesar do desenvolvimento de escolas médicas, as doenças ainda eram vistas como castigo divino uma vez que o corpo era um retrato da alma. Desse modo, a determinação da lepra ainda era função da igreja e as medidas de cotrole da doença com a segregação dos leprosos eram consideradas medidas médicas da época.  


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